Maquiavel: Conceitos
BIOGRAFIA
NICCOLÒ
MACHIAVELLI – 1469-1527
Aos
nove anos assiste ao assassinato de Juliano de Medici na Catedral de
Florença e ao ferimento a Lourenço de Medici que escapa com vida numa
tentativa de tomada do poder pelo sobrinho do papa Sisto IV. A curiosidade de
Maquiavel é aguçada cada vez mais pelos fatos políticos da época.
Já
aos vinte e nove anos(1498) assiste a ascenção e queda do frei dominicano Jeronino
Savonarola,
líder religioso que desafiava o poder papal que é enforcado e queimado em praça pública. É desta época a preocupação de Maquiavel com a figura política do chamado “profeta desarmado que nada pode contra a força” pois encontra muitos outros casos de príncipes sem exércitos que acabam caindo em desgraça.
líder religioso que desafiava o poder papal que é enforcado e queimado em praça pública. É desta época a preocupação de Maquiavel com a figura política do chamado “profeta desarmado que nada pode contra a força” pois encontra muitos outros casos de príncipes sem exércitos que acabam caindo em desgraça.
Neste
mesmo ano de 1498 torna-se segundo secretário da República de Florença,
encarregado de assuntos diplomáticos, dos problemas internos e das questões
bélicas. Isto lhe rende muitas viagens e também trava conhecimento com
personagens importantes da época. Adquire fama de intelectual e arguto
conselheiro. Lucidez, concisão e lógica de argumentação são virtudes
inquestionáveis.
Como
Chanceler em Veneza conhece César Borgia, figura temida e de grande
determinação e astúcia que chama a atenção de Maquiavel pelo seu crescente
êxito. Com a morte do papa AlexandreVI em 1512 assume o seu lugar o papa Júlio
II que estava a dez anos no exílio. Este une-se ao Rei Aragão(Nápoles) para
dominar Florença e reconduz a família Medici ao poder. Cai portanto o governo
republicano de Soderini e Maquiavel é cassado e preso. Chega a ser torturado.
Fica preso 22 dias porém com a ascenção do papa Leão X(um Medici) há uma
anistia geral.
Isola-se
então em sua propriedade rural e vive em ostracismo político. É neste período
que escreve “O Príncipe”,
fruto de sua intensa observação e vivência no mundo político. Sua vida é
rotineira e simples como ele descreve em uma carta enviado ao amigo Francisco
Vetor, a quem confia vários pedidos de intercessão junto aos Medici para voltar
a vida pública. A obra é então dedicada aos Medici na esperança de ser
reconduzido a um emprego publico; porém os tiranos o vêem como um republicano.
Somente em 1520 é lembrado e convidado a escrever sobre Florença. Após isto os
Medici caem novamente e em 1527 a república é restaurada. É então identificado
como alguém que tinha ligações com os tiranos(Medicais) e definitivamente
esquecido. Adoece e morre neste mesmo ano.
CONTEXTO HISTÓRICO
Já
ao início do século XVI a Itália se apresenta dividida em pequenos principados.
Seus governadores são déspotas sem tradição dinástica ou de direitos
contestáveis. A crise na estrutura do poder era conseqüência da instabilidade
política que tinha sua origem na ilegitimidade do poder. Só se mantinha o
poder pelas armas e a força militar italiana era constituída por mercenários.
Isto tornava instável a conquista e a manutenção do poder.
Havia
um grande vazio: ausência de um poder central. Este vazio era ocupado por
militares aventureiros (condottieri) – governantes astutos e bem armados.
Conquistavam alguns principados para si e estabeleciam alianças com reis,
cardeais e papas.
A
Europa ocidental era monárquica e os principados italianos, presas fáceis. O
cenário era de total desorganização política, militar e institucional devido ao
anacronismo das cidades - estado e pela ausência de um poder central forte. A
igreja, ainda que influente não conseguia dominar os Estados e também não
encorajava a unificação dos principados, ducados, reinos e repúblicas sob o
poder de um príncipe secular.
O
restante da Europa cresce com o comércio. Alguns empresários italianos
transferem o centro de decisão de seus negócios para a Inglaterra e França. A
Itália estava dividida, como dissemos, em ducados, principados e repúblicas,
todas rivais entre si. Neste contexto, a astúcia e traição eram freqüentes
inclusive dentro do clero. Este é o cenário da realidade social à época em que
foi escrito ‘O Príncipe”.
Era
a época do Renascimento e a retomada dos clássico gregos e romanos substituía
gradualmente o imobilismo da Idade Média (caráter teocêntrico) por um dinamismo
indicado por uma nova visão do Homem (caráter antropocêntrico).
Há
uma tentativa da Itália de viver em paz através do Tratado de Lodi que pôs fim
a guerra entre Milão e Veneza instituindo a Santíssima Liga com a participação
destes e também da República de Florença, do reinado de Nápoles e o papado.
Estes cinco principais governos unidos garantem um certo equilíbrio político
por cerca de quarenta anos. Menos enfraquecida a Itália prospera e lidera o
movimento renascentista.
A
quebra do Tratado se dá durante o pontificado de Sisto IV. Em 1478, Florença
então governada por Lourenço de Medici se torna hostil a Roma devido a política
de fortalecimento dos Estados pontifícios. O papa Sisto IV aceita participar de
uma conspiração para derrubar os Medici não sendo informado de todos os
detalhes. Na catedral durante uma missa Juliano é assassinado e seu irmão
Lourenço escapa com vida. Os algozes são presos, enforcados e esquartejados
pela multidão. Lourenço de Medici sai fortalecido. Enfrenta de um lado a
hostilidade de Veneza e de outro o papado unido a Nápoles. Num gesto político
audacioso parte sozinho a Nápoles para se encontrar com o rei. Diante da ameaça
turca alia-se a Fernando I e desta forma Lourenço colhe grande vitória
diplomática sobre o papa. Lourenço morre em 1492 e seu filho Pedro faz um
reinado medíocre e é condenado ao exílio por ter se entregue covardemente ao
rei Carlos VIII da França. Carlos VIII entra triunfante em Florença convencido
de que é um emissário de Deus enviado para punir e reformar a Igreja conforme
os sermões de um frei chamado Savonarola que se torna a personalidade dominante
naquele momento.
O novo governo assume uma feição Teocrática com
campanha moralista e religiosa elevada a um grau desconhecido mesmo na Idade
Média.. Rapidamente entra em choque com o papa Alexandre VI; é excomungado e
Florença é ameaçada com um interdito. Savonarola é preso pelo governo, torturado
e morto em praça pública.
Maquiavel
a tudo assiste tirando lições da brusca queda do líder religioso sem armas.
Todos os adeptos a Savonarola são demitidos. Aos vinte e nove anos Maquiavel
assume o cargo de secretário na Segunda Chancelaria de Florença. Participa de
muitas missões diplomáticas, sendo uma especial: travou conhecimento com César
Borgia filho do papa Alexandre VI. É da astúcia e rapidez de César Borgia na
conquista a Urbino que Maquiavel identifica uma qualidade fundamental a
qualquer príncipe: virtù.
(palavra italiana que para Maquiavel significa energia, decisão, capacidade,
empenho, vontade dirigida para um objetivo - em latim vir=homem.)
Em
1512 morre Alexandre VI. É eleito o papa Júlio II (sobrinho de Sisto IV ) que
estava no exílio por animosidade aos Borgia. César Borgia é preso e liberado
mediante pagamento de pesado tributo. Vai para a Espanha onde morre lutando em
completo esquecimento. Júlio II derrota o governo republicano de Soderini e
reconduz os Medici ao governo. Começa então o ostracismo de Maquiavel.
TEMAS IMPORTANTES
PARA A ANÁLISE
DA OBRA
A VERDADE
EFETIVA DAS COISAS
O foco para Maquiavel sempre foi o Estado, não
aquele imaginário e que nunca existiu; mas aquele que é capaz de impor a ordem!
O ponto de partida e de chegada é a realidade corrente – por isto a ênfase na verità effetuale – ou seja: ver e
examinar a realidade como ela é e não como se gostaria que fosse.
O que Maquiavel se questiona incessantemente é: como
fazer reinar a ordem – como instaurar um estado estável – como resolver o ciclo
de estabilidade e caos. Ele chega a algumas conclusões interessantes – A ordem deve ser construída para evitar a
barbárie. Uma vez alcançada, não é definitiva.
NATUREZA HUMANA E HISTÓRIA
Fiel ao conceito da verdade efetiva, Maquiavel
estuda a história, sobretudo a antigüidade clássica. Conclui que qualquer que
seja o tempo e o espaço o homem tem traços humanos imutáveis quais
sejam: ingratos, volúveis, simuladores,
covardes e ávidos de lucro – O Príncipe cap. XVII. Destes atributos
negativos temos os fundamentos para o conflito e a anarquia.
Para Maquiavel o estudo do passado indicará os
acontecimentos que se sucederão em qualquer estado e também quais os meios
empregados para solucionar problemas pela coincidência ou similaridade.
Segundo Maquiavel, os principados são dois os tipos
de principados: REPUBLICA ou PRINCIPADOS.
Os Principados podem ser hereditários ou novos.
Principados
mistos:
Quando não são inteiramente novos.
Maquiavel aconselha que quem adquire um território,
desejando conserva-lo, deve tomar em consideração duas coisas: UMA,
que a estirpe do seu antigo príncipe desapareça; a OUTRA, não alterar
as suas leis, nem os seus impostos. Assim, dentro de um brevíssimo tempo,
formam um corpo só.
Quando o príncipe reside em seu domínio,
dificilmente acontece de vir a perde-lo.
Outro meio igualmente eficaz e mandar colonizar
algumas regiões que sejam como chaves do novo Estado.
Esta medida e pouco dispendiosa ou nada custa alem
de descontentar uns poucos. Apenas aqueles de que se tira os campos para dar
aos novos habitantes.
Neste caso, os lesados por ficarem pobres e
dispersos, nunca poderão acarretar-lhe embaraços
Note-se, dizia Maquiavel, que os homens devem ser
suprimidos ou lisonjeados, pois se vingam das ofensas leves, mas não podem
faze-lo das graves. Por conseguinte, a ofensa que se faz ao homem deve ser tal,
que o impossibilite de tirar desagravo.
Em sua opinião o exercito e dispendioso e causa
descontentamentos a uma gama muito maior que a colônias, por isso,
considerava-os inúteis.
Quando se conquista um pais acostumado a viver
segundo as suas próprias leis e em liberdade, três maneiras ha de proceder para
conserva-lo- : DESTRUI-LO; ou IR
MORAR NELE; ou DEIXA-LO
VIVER COM SUAS LEIS.
Sobre os novos Principados conquistados dizia “ Os
Estados rapidamente surgidos, como todas as outras coisas da natureza que
nascem e crescem depressa, não podem Ter raízes e as aderencias necessárias
para a sua consolidação. – Extingui-los a, a primeira borrasca, a menos que
seus fundadores eram tão virtuosos que saibam imediatamente preparar-se para
conservar o que a fortuna lhes concedeu e lancem depois alicerces idênticos aos
que os demais príncipes construíram antes de tal se tornarem.
Segundo Maquiavel, existem ainda duas outra maneiras
de um simples cidadão chegar ao poder que não por meio da fortuna ou da virtude
– através
da pratica de ações celeradas e nefastas ou favor dos outros concidadãos.
Quando um cidadão chega ao poder por meio da ajuda
dos seus concidadãos, o principado pode ser chamado de civil e para alguém
governa-lo, não precisa Ter exclusivamente VIRTUDE ou FORTUNA, mas sim ASTUCIA AFORTUNADA.
Quem chega ao poder com o auxilio dos grandes, tem maiores dificuldades do
que aquele que chega com o apoio dos vulgos.
Desejo do povo e ficar livre de opressão enquanto os
grandes querem oprimir o povo.
Na sua opinião, o governo de um desses Estados
começa a vacilar quando da ordem civil passa a MONARQUIA ABSOLUTA.
Aconselha a que o príncipe deve fazer com que seus
súditos necessitem sempre do Estado e dele porque a ele se submeterão.
ANARQUIA x PRINCIPADOS E REPÚBLICA
Aliada a desordem, característica da natureza
humana, existe a presença de duas forças opostas em qualquer sociedade:
Não querer ser dominado nem oprimido pelos
grandes,.....e
Os grandes querem dominar e oprimir.
Para Maquiavel só há dois caminhos que respondam à
anarquia da natureza humana e ao confronto entre os dois grupos sociais: O Principado ou a República.
A escolha de um ou de outro não é obra do acaso mas
recai sobre fatos e situações concretas como se vê:
Nação ameaçada de deterioração, corrupção alastrada
= necessita de um governo forte que iniba as forças centrífugas = Principado – não necessariamente
um ditador, mas um estadista.
Sociedade equilibrada na qual o poder político
cumpriu a função regeneradora e educadora = República. As instituições são estáveis e os conflitos
indicam cidadania ativa.
VIRTÙ X FORTUNA
Virtù é, como vimos, energia,
vontade dirigida para um objetivo.
Fortuna é sorte(boa ou má), acaso ou oportunidade
(propícia ou desfavorável). No caso do príncipe é o momento certo,
antecipadamente calculado por ele; momento no correr do tempo porém o momento
com certeza de êxito garantida pela perspicácia do príncipe.
A crença na predestinação ou fatalidade dominava a
muito tempo. A atividade política era uma prática de homens livres, o homem
como sujeito da história. Este era um dogma contra o qual Maquiavel teria que
lutar.
A fortuna era uma deusa que possuí-a os bens que o
homem deseja possuir: honra, riqueza, glória e poder. Era importante seduzi-la
antes que outros o fizessem. Como era deusa - mulher era necessário mostrar-se vir homem de inquestionável coragem.
Desta forma o homem que possuísse uma virtù
no mais alto grau seria agraciado com a fortuna.
Maquiavel na sua obra O Príncipe monta um cenário para comprovar que é
possível se estabelecer uma aliança com a virtù
pois parece haver um sentido de
complementaridade e não de sobreposição.
O poder que nasce da própria natureza humana
encontra sua base na força mas o importante é a sabedoria no uso da força; ao
governante para se manter no poder não basta ser simplesmente o mais forte –
ele deve possuir virtù para manter o domínio adquirido.
A Estratégia em “O Príncipe”
Como se deve medir as forças de todos os principados?
Deve-se verificar se o príncipe tem condições de
oferecer resistência sozinho a quem lhe ataca, isto é, dinheiro e exército para
resistir.
Se necessita de ajuda alheia para defender seu
trono, ou seja, refugia-se dentro dos muros de sua cidade para defender estes.
Dos principados eclesiásticos
Para conquistá-los basta virtude e sorte e para
conservá-los não necessitam nem de uma ou outra coisa, pois as instituições
religiosas são tão sólidas de tal natureza que permitem aos príncipes
manterem-se no poder seja qual for o modo de procederem ou que vivem.
Diz-se que estes principados são os únicos seguros e
felizes.
Obs.: Maquiavel diz isso porque nesta época a Igreja
Católica Medieval era muito poderosa, estando acima e no topo da hierarquia
máxima do estado medieval.
Dos soldados mercenários
Um príncipe para ter um estado forte é necessário
que ele tenha um bom exército e boas leis.
As tropas mercenárias ou auxiliares são inúteis e
perigosas, o rei nunca terá tranqüilidade e nem segurança, pois elas são
desunidas, ambiciosas, sem disciplina, infiéis, corajosas diante dos amigos e
covardes diante dos inimigos e sem temor a Deus. Querem ser soldados do patrão
enquanto ele não faz guerra, mas ao romper esta, querem fugir ao compromisso.
Dos deveres de um príncipe para com a milícia
O príncipe não deve cultivar outra arte a não ser a
da guerra juntamente com as regras que ela requer para conservar seu estado.
Obs.: “Manter sempre forte seu exército, em sempre
estar aliado a ele.”
Das coisas pelas quais um homem ou príncipe são
louvados ou censurados
Faça o que for necessário para não cair em ruína o
seu trono, mesmo que seja censurado.
Na escolha, do que se deve fazer, encontrará algo
com aparência de virtude, que cuja adoção lhe trará a ruína, e algo com
aparência de defeito que o conduzirá a uma situação de segurança e bem-estar.
De que maneira
os príncipes devem cumprir suas promessas
1º Só deverá cumpri-las se forem benéficas.
Saiba que existe dois modos de combater: é pela lei
ou pela força, não sendo muitas vezes suficiente a primeira convém recorrer a
segunda.
Um príncipe sábio não pode e nem deve manter-se fiel
as suas promessas quando extinta a causa a que o levou fazê-las. Este preceito
não servia se todos os homens fossem bons, como são maus por isso faltariam com
a palavra que deram e nada impede que venhamos faltar com a nossa também.
Justificativa para o não cumprimento da promessa
feita. “Os homens em geral formam suas opiniões guiando-se pela vista, do que
pelo tato; vê o que parecemos ser, e não sentem o que realmente somos.
Os homens são tão simplórios e obedecem de tal forma
as necessidades presentes que aquele que engana encontrará sempre quem se deixe
enganar.
É necessário a um príncipe que ele tenha um espírito
pronto adaptar-se as variações das
circunstâncias e da fortuna e manter-se quanto possível no caminho do bem, mas
pronto igualmente a enveredar pelo do mal, quando for necessário.
Como se deve
evitar o desprezo e o ódio
O príncipe deve em geral abster-se de praticar o que o
torne malquisto ou desprezível.
O que acarreta ódio dos súditos é usurpar os seus
bens e as suas mulheres, pois os homens vivem contentes enquanto ninguém lhes
toca nos haveres e na honra.
O desprezo incorre quando os seus governados o
julgam, inconstante, leviano e irresoluto.
Tem de ter o máximo de cuidado, esta reputação é
perigosa, seus atos devem ser de grandeza, coragem, austeridade e vigor.
Como deve portar-se um príncipe para ser estimado
Torna-se estimado quando sabe ser verdadeiro amigo
ou inimigo, isto é, quando abertamente se declara a favor de alguém e contra
outrém, é sempre melhor que manter-se neutro.
Deve mostrar-se também amante da virtude, premiando
os homens que se sobressaiam.
Deve incutir nos seus súditos a idéia que poderão
praticar seu ofício em paz, seja no comércio, agricultura, ou qualquer outro,
para que estes não criem outros ramos de atividades para fugir dos impostos.
“Idéia de Liberalismo.”
Deve distrair o povo com festas durante certas
épocas do ano e manter o controle sobre os grêmios ou corporações que divide a
cidade. “Idéia de pão e circo.” “Futebol”.
PRINCIPADOS
“Território ou
Estado cujo soberano é um príncipe ou princesa.”
Podem ser
Hereditários ou Novos.
Maquiavel não atribuía interesse aos Principados
Hereditários, pois são demasiados estáveis, demasiado fáceis, pois basta ao
Príncipe “não ultrapassar os limites estabelecidos pelos antepassados e
contemporizar com os acontecimentos”.
As verdadeiras dificuldades, tanto para conquistar
quanto para conservar encontram-se nos principados novos.
Maquiavel propôs um código prático de anexação,
devendo-se levar em conta na avaliação o modo de governo, se é despótico (tirano),
aristocrático (nobreza) ou se é republicano (livre).
Maquiavel se move no domínio do fato, isto é a
força, pois o triunfo do mais forte sendo o fato essencial da história humana,
e isto era bastante natural para Maquiavel e seus contemporâneos, é um fato
natural, banal.
“O desejo de conquistar é sem dúvida algo de ordinário e
natural, e todo aquele que se entrega a tal desejo, quando possui os meios para
realizá-lo é antes louvado que censurado; mas formar o desígnio sem poder
executá-lo é incorrer na censura e cometer um erro ...”
Precisa-se Ter forças para conquistar, assim para
conservar.
A razão primeira e última da política do príncipe é
o emprego dessas forças de guerra.
Para todo Estado antigo, novo ou misto, “as
principais bases são: boas leis e boas armas.”
Não há boas leis onde não há boas armas.
Boas armas, boas tropas, são apenas as que pertencem
ao príncipe, compostas de seus cidadãos, de seus súditos, de suas criaturas.
Para Maquiavel existem quatro maneiras de
conquistar, as quais poderão corresponder à diferentes maneiras de conservar ou
de perder.
Conquista pela própria “Virtu” (energia, vigor,
resolução, talento, valor bravio e se necessário feroz);
Conquista pela Fortuna e pelas armas alheias;
Conquista pela Perversidade;
Conquista pelo Consentimento dos concidadãos.
Maquiavel interessa-se mais pelas duas primeiras
maneiras.
Os que se tornaram príncipes pela própria “Virtu” e
pelas próprias armas, conhecem muitas dificuldades para conquistar e instalarem
seus principados, para nele se radicarem, mas depois encontram muita facilidade
para conservá-lo.
Os Principados conquistados com as armas alheias,
isto é, pela fortuna, a regra é inversa: facilidade para conquistar,
dificuldade para conservar.
É também possível tornar-se Príncipe por meio das
perversidades: Para Maquiavel existem dois tipos de crueldades: as bem
praticadas e as mal praticadas.
As bem praticadas, são as que se cometem todas ao
mesmo tempo, no início do reinado a fim de prover a segurança do novo Príncipe.
Parecem menos amargas, ofendem menos.
As crueldade mal praticadas são aquelas que se
arrastam, se renovam, e pouco numerosas no princípio se multiplicam com o tempo
em vez de cessarem. Os súditos perdem então o sentido de segurança.
Tenha o cuidado de ofender os impotentes se
possível. Se é obrigado a ofender os poderosos, seja radical na ofensa.
A conquista pelo fator dos concidadãos exige alguma
fortuna e alguma “virtu”. Ora é o povo, ora são os grandes que assim constituem
um Príncipe.
O Príncipe elevado pelos grandes – que se julgam
seus iguais, que são insaciáveis, e aos quais não domina – encontra uma
dificuldade em manter-se do que um
Príncipe elevado pelo povo.
O Príncipe elevado pelos grandes, contra a vontade
do povo, deverá fazer tudo para se reconciliar o quanto antes com o povo.
Fica transparente a preferência de Maquiavel pelo
povo e sua hostilidade para com os grandes.
Maquiavel não se interessa por estes principados
chamados de “civis” e nem pelos Eclesiásticos, que adquirem pela fortuna, e
para conservá-los não precisa nem de fortuna e nem de “virtu”. Basta o poder
das instituições religiosas.
Distinção entre os Estados a conquistar:
Despótico: Difícil de conquistar
porque todos os súditos se agregam ao redor do Príncipe e nada tem a esperar do
estrangeiro. É fácil conservar, bastando para isso extinguir a raça do
Príncipe.
Aristocrático: Fácil de conquistar. Sempre
tem descontentes prontos para abrir o caminho para o estrangeiro. Difícil de
conservar, pois não é possível satisfazer a todos os grandes e nem extinguí-los
de todo.
República: Difícil de manter. Existe
um princípio de vida mais ativo, um ódio mais profundo, um desejo de vingança
muito mais ardente, causada pela lembrança da antiga liberdade.
Maquiavel não consegue ocultar sua preferência,
ternura e admiração pelos governos livres.
Os três meios
para domar a liberdade republicana são:
Venha o Príncipe residir nas terras conquistadas
para reprimir as desordens;
Governe o país conforme suas leis, pelos próprios
cidadãos recebendo um tributo.
O meio
radical: destruir, aniquilar a antiga e incurável República.
EM O PRÍNCIPE
Maquiavel aproveitou a ocasião de mostrar o perfil de
César Borgia, tipo de príncipe novo, modelo de virtuosidade política, em
oposição a Luís XII, príncipe hereditário que acumula as faltas. O principal da
obra está nos capítulos XV a XX, e que constituem a essência do maquiavelismo.
Subentende-se os deveres do príncipe
cristão. O novo príncipe vive no seio do
perigo, acompanhando-o dois receios:
o interior de seus estados e o proceder dos súditos;
o exterior e os disignios das potências circundantes.
O príncipe deve aprender a não ser sempre bom, a ser ou
não ser bom “conforme a necessidade”. O príncipe deve conservar o seu reino.
O autor está desiludido com ou outros homens. Distingue
perfeitamente o bem e o mal, e que até
preferiria o bem, mas que recusa fechar os olhos ante o que julga ser a
necessidade do Estado, ante o que julga serem as sujeições da condição humana.
Para um príncipe ser considerado liberal, generoso é
bom, todavia ser parcimonioso é um dos vícios que fazem reinar. Igualmente o
príncipe deseja ser considerado clemente, mas é a crueldade que restabeleceu a
ordem e a união na Romagna. Donde surge a questão clássica: Mais vale ser amado que temido, ou temido
que amado? É melhor ser temido. Porque?
Os homens são ingratos. O vínculo do amor rompem-no ao sabor do próprio
interesse, enquanto o temor se conserva por um medo do castigo, que jamais os
abandona. Ser temido não significa ser odiado. Há uma singela receita para
evitar o ódio: é abster-se de atentar,
seja contra os bens dos súditos, seja contra a honra de suas mulheres.
Os príncipes que fizeram grandes coisas violando a
sua fé, impondo-as aos homens pela astúcia, é que acabaram por dominar aqueles
que se baseavam na lealdade.
O príncipe deve escolher por modelo a raposa e o
leão. Deve tratar de ser simultaneamente a raposa e leão, pois, se for apenas
leão, não perceberá as armadilhas; se for apenas raposa, não se defenderá
contra os lobos. Quando se é príncipe, pode-se “deixar de encontrar razões
legítimas para colorir a falta de cumprimento” do que se prometeu.
O novo príncipe deve observar em jamais tornar
poderoso outro príncipe, pois seria trabalhar para sua própria ruína. Também o
novo príncipe não se deve permanecer neutro, pois os que abraçam esta posição
quase sempre vão a ruína.
Somente um príncipe já sábio por si mesmo pode ser
bem aconselhado. Deve tomar conselho quando quer e não quando outros o querem.
Jamais se deixar dominar por aqueles que o aconselham. Um bom ministro é aquele
que nunca pensa em si mesmo, mas sempre no príncipe. Mas o príncipe também deve
pensar neste seu ministro, cumulando-o de
riquezas, de consideração, de honras e dignidades, para que receie toda
mudança.
O SEGREDO DE
MAQUIAVEL.
Nos últimos 03 capítulos de O Príncipe (sobretudo no
XXVI), Maquiavel revela seu grande segredo: A Itália. Um violento amor da
pátria despedaçada, subjugada e devastada. O sonho de um libertador, de um redentor
da Itália atormenta Maquiavel.
No capítulo XXIV, manifesta Maquiavel seu desprezo
aos príncipes italianos, tais como o rei de Nápoles, o Duque de Milão, que,
após uma longa posse, perderam seus Estados.
No último
capítulo (XXVI), diz o autor que na Itália, nunca as circunstâncias foram tão
favoráveis a um príncipe novo que queira “tornar-se ilustre”.
O DESTINO DA OBRA
Lourenço de Médicis recebeu O Príncipe em manuscrito. Não
lhe dispensou atenção alguma. Nas mãos de contemporâneos onde circulou o
manuscrito, o interesse foi medíocre.
A partir de 1519, recupera Maquiavel certo favor dos
Médicis, mas devido sua reputação de funcionário prudente, de hábil político, e
não por causa de O Príncipe. Recebe uma pensão para escrever a sua História de
Florença. Em 1527 os Médicis são de novo expulsos de Florença,
restabelecendo-se a República, e a 22 de junho de 1527, aos 58 anos de idade,
NICOLAU MAQUIAVEL falece, vítima de males intestinais.
Quatro anos após sua morte, O Príncipe é publicado, com
um breve de autorização do Papa Clemente VI (1531); a edição é dedicada a um
cardeal. Inicialmente inofensiva, as edições vão se multiplicando. A Renascença
pagã. sucedeu a Reforma protestante, que obrigou a própria Igreja a reformar-se
interiormente. Assim o livro de Maquiavel achou-se envolvido nos turbilhões de
vastas contendas. O Cardeal - Arcebispo
de Canteerbury, Reginald Pole, católico, julga O Príncipe escrito “pela mão do
Demôniuo”. Em1557, o escrito indigno e
celerado denunciado pelo Papa Paulo IV; é condenado pelo Concílio de Trento, e
muitas outras acusações. Também os protestantes abominam Maquiavel como
jesuíta. Os jesuítas o denunciam à indignação católica.
Porém os soberanos e primeiros ministros,
apaixonados do Poder, fazem de O Príncipe, breviário do absolutismo, o livro de
cabeceira. Por volta de 1738, Frederico, príncipe real da Prússia, compõe um
Antimaquiavel, homenagem de um “filósofo”, de um futuro “déspota esclarecido”,
ao idealismo político, ao otimismo do século.
Mas Maquiavel, “simulando dar lições aos reis, deu
grandes lições aos povos”.
Napoleão aparece a seus inimigos, como a realização mais perfeita do príncipe.
Maquiavel tem direito à mais fervorosa gratidão da Itália unificada de 1870, e
dos democratas do mundo inteiro. Na segunda guerra mundial, julgou-se a derrota
de Hitler como a derrota de Maquiavel. Mas a derrota de Hitler é em grande
parte a vitória de Stalin. No entanto, a força corrosiva do pensamento e do
estilo de Maquiavel ultrapassaram, de infinita distância, o objeto do momento.
Por ter realçado tão cruelmente o problema das relações entre a política e a
moral; por ter concluído, em uma cisão profunda, uma irremediável separação
entre elas,
O Príncipe atormentou a humanidade durante quatro
séculos. E continuará a atormentá-la, senão eternamente”, como se disse, - ao
menos enquanto essa humanidade não tiver analisado inteiramente certa cultura
moral, herdada, no que diz respeito ao Ocidente, de alguns Antigos célebres, e,
sobretudo, do cristianismo.
Fonte: Desconhecido
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