Questão Social - Octavio Ianni
Para
Octavio Ianni, a questão social se torna mais evidente, como desafio, nas
épocas de crise. Porque neste período os mais diversos setores da sociedade
passam a se interessar pelo o desenvolvimento social na perspectiva de resolver,
identificando, vários problemas relacionados à questão social.
No
seu contexto histórico, a questão social foi vista por duas interpretações
divergentes. Uma considera essa questão como algo disfuncional, anacrônico,
retrasado, em face do que é a modernização alcançada em outras esferas da
sociedade, como na economia e organização do poder estatal. Criando dualismos,
como arcaico e moderno e dois “brasis”. Outros afirmam que suas manifestações são
uma ameaça a ordem social vigente, a harmonia entre o capital e o trabalho e a
paz social. E há os que a vêem como produto e condição da sociedade do mercado.
Na
sociedade brasileira a questão social é um tema recorrente, influenciando a
pratica de muitos, fazendo parte do cotidiano da história brasileira. Ianni explica citando o fato dela persistir durante um século de república,
compreendendo a oligarquia, o governo populista de Getúlio Vargas, o regime
militar e os dias atuais, apresentando- se como um problema nacional,
refletindo disparidades econômicas, políticas e culturais, envolvendo classes
sociais, grupos raciais e formações regionais. O autor exemplifica no texto os
exemplos de problemas impostos pela questão social ao decorrer desse século no
Brasil e demonstra que no curso da história a sociedade em movimento apresenta-
se como uma vasta fábrica de desigualdades que constituem a questão social,
sendo que a prosperidade da economia e o fortalecimento do poder estatal são
desproporcionais ao desenvolvimento social.
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Ianni, afirma que os setores sociais dominantes revelam uma séria dificuldade
para se posicionarem em face das reivindicações econômicas, políticas e
culturais dos grupos e classes subalternas. Em
vários estudos realizados ao decorrer do tempo comprova-se que os indicadores
sociais não correspondem aos econômicos, devido a negligência ou incapacidade
dos setores sociais “carentes”, “marginais”, “periféricos”, existindo então
dois “brasis”, não só diversos, mas estranhos entre si, sendo que parecem heterogêneos,
apesar de mesclados.
Segundo
Hélio Jaguaribe há o “dualismo social” que prejudica a organização da sociedade
brasileira, de um lado a “moderna sociedade industrial”, que já é a oitava
economia mundial e, de outro, está uma sociedade primitiva, vivendo em
condições de subsistência, no mundo rural ou em condições de miserabilidade
urbana. No entanto, explica- se esse dualismo nas suas reciprocidades, ou seja,
um é condição do outro. A reprodução familiar da ignorância e da miséria
manteve- se, no decorrer da história, no curso de quatro gerações que nos
separam da Abolição, o dualismo básico entre os participantes e excluídos dos
benefícios da civilização brasileira.
A
economia e a sociedade, a produção e as condições de trabalho, o capital e o
trabalho, a mercadoria e o lucro, o pauperismo e a propriedade privada capitalista
reproduzem-se reciprocamente. Segundo Ianni, “o pauperismo não se produz do
nada, mas da pauperização". O desemprego e o subemprego são manifestações do
fluxo e refluxos dos ciclos de negócios. A miséria, a pobreza e a ignorância, em
geral são ingredientes desse processo”, explicando assim que a questão social,
apesar dessas relações recíprocas a questão social acaba por ser
“naturalizada”. Há duas explicações, destacadas, para a explicação da
naturalização da questão social, uma tende a transformar as manifestações da
questão social em problema da assistência social, outra tende a transformar as
manifestações da questão social, em problemas e violência e caos,
“solucionando-a” com segurança e repressão.
Para Ianni, a história da questão social no Brasil pode ser vista como a história das formas de trabalhos, com uma reiterada apologia do trabalho, uma pedagogia antiga, contínua e presente. Sempre estando em curso.
(h)
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