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Seminários de Sumaré e do Alto de Boa Vista



Os seminários ocorreram em meados da década de 1970, a perspectiva modernizadora, de matriz positivista, passa a registrar uma concorrência com outras vertentes no processo da renovação do Serviço Social do Brasil (reatualização do conservadorismo e intenção de ruptura) , passando a disputar o espaço de hegemonia na arena central do debate.
Os colóquios realizados no Rio de Janeiro, no Centro de Estudos do Sumaré em 1978 e no Alto da Boa Vista em 1984, organizados pelo CBCISS, registram o deslocamento da vertente modernizadora e dos seus documentos orientadores.
Entretanto, nenhum dos Seminários, Sumaré e o Alto da Boa Vista (Araxá, 1967 e Teresópolis, 1970), obtiveram seus resultados a repercussão que cercou os seus dois precedentes. E isto pode ser explicado por vários motivos, dentre eles, as alterações no interior do corpo profissional, refletindo-se no surgimento de novos organismos de expressão e representação.
Tudo isso tornava pouco atraente para as vanguardas profissionais emergentes, pois ambos os Seminários tiveram extrema pobreza teórica em comparação com a discussão simultaneamente operada nos foros acadêmicos, culturais e políticos da profissão e fora dela.
O seminário de Sumaré deveria enfrentar três temas básicos: a relação do Serviço Social com a cientificidade, a fenomenologia e a dialética.
No primeiro tema, sobre o “Serviço Social e a cientificidade”, houve uma divisão em dois grupos: do Rio de Janeiro e o de São Paulo. Uma das conclusões do grupo do Rio de Janeiro é que não haverá prática científica no Serviço Social se os aspectos epistemológicos e teóricos forem negligenciados em proveito apenas de manipulações técnicas e de caráter pragmático e terapêutico.
O documento paulista, constatando que o Serviço Social não alcançou ainda um estágio de ciência, os redatores pensam que se deve discutir a construção do seu objeto mediante um “enfoque dialético” que incorpore uma dupla perspectiva: a da ciência e a dos modos de produção, das formações sociais e das conjunturas políticas.
A Professora Creusa Capalbo proferiu duas conferências, uma delas versando sobre a fenomenologia e a outra sobre o método dialético na tradição marxista. Entretanto, como falava para um público pouco afeito à reflexão filosófica, a sua reflexão se deu de forma simplória, chegando proferir formulações insustentáveis sobre o pensamento marxista.
Segundo Jose Paulo Netto (2009), quando se examina o material publicado do encontro do Alto da Boa Vista (CBCISS, 1988) é que se pode avaliar como o simplismo das intervenções dos conferencistas convidados tornou-se mesmo um fato central. Ficam claras a defasagem e a pobreza teórica. Estas contribuições estão aquém do nível alcançado pela bibliografia de uso generalizado nos cursos de pós-graduação e, sobretudo, aquém, da própria problematização operada no bojo do Serviço Social e das instâncias profissionais.
Efetivamente, é ainda no marco dos seminários do Sumaré e do Alto da Boa Vista que ressoam as formulações da vertente renovadora a que Netto denomina de Reatualização do Conservadorismo – expressa primeiramente na tese de livre-docência de Anna Augusta de Almeida (1978), seu texto mais representativo foi “Uma nova proposta”.
O lastro conservador não foi erradicado do Serviço Social pela perspectiva modernizadora, ela explorou particularmente seu vetor reformista e subordinou as suas expressões às condições das novas exigências que a “modernizadora” colocou ao exercício profissional.
A nova vertente que estava por se gestar deveria travar um duplo combate: deter e reverter a erosão do ethos profissional “tradicional” e todas as suas implicações sociotécnicas e, ao mesmo tempo, configurar-se como uma alternativa capaz de neutralizar as novas influências que provinham dos quadros de referência próprios da inspiração marxista. Fazê-lo, porém, supunha inovar na operação mesma da restauração – supunha reatualizar o conservadorismo, embutindo-o numa “nova proposta”, “aberta” e “em construção”.



NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do serviço social no Brasil pós-64. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2009

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